Inovações tecnológicas na área da saúde têm surgido desde o século XX, revolucionando completamente a medicina. A partir dessa época, a saúde passou por transformações significativas com o advento de dispositivos, equipamentos e tecnologias que não apenas aumentaram a expectativa de vida, mas também proporcionaram resultados mais satisfatórios nos procedimentos realizados, melhorando assim a qualidade de vida dos pacientes em tratamento.
Como resultado desse avanço, surgiu primeiro a Engenharia Biomédica, cujo objetivo é unir a tecnologia à área da saúde e impulsionar avanços tecnológicos em prol da medicina e do bem-estar dos pacientes. Apesar dos benefícios trazidos pelos avanços tecnológicos, muitos acidentes ocorriam devido à falta de regulamentação e fiscalização dos equipamentos médicos utilizados, seja devido à falta de orientação por parte dos fabricantes ou à negligência dos profissionais ao manusear esses equipamentos.
Foi nesse momento que surgiram órgãos de controle e fiscalização, como a ANVISA no Brasil e a FDA nos Estados Unidos, a fim de regularizar o uso e fabricação dos equipamentos e reduzir os riscos potenciais.
A Engenharia Biomédica é uma área com uma atuação ampla, e, portanto, o termo ‘Engenharia Clínica’ será mais utilizado neste e nos próximos documentos, por se tratar de um dos ramos de atuação da engenharia biomédica, com foco na gestão dos parques de equipamentos dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS).
A Clinical Engineering é um dos setores essenciais para o bom funcionamento de um EAS. E é por meio desse setor que se garante o correto funcionamento dos equipamentos médico-assistenciais presentes no parque tecnológico da instituição. Ter uma equipe dedicada a essa função é fundamental e indispensável e, independentemente de a equipe ser terceirizada ou própria da instituição, as orientações e dicas que daremos neste artigo podem ser seguidas para garantir o dimensionamento de uma equipe capaz de atender às demandas com qualidade.
NÍVEIS DE ATENDIMENTO DA ENGENHARIA CLÍNICA
Grande parte do estudo relacionado à área de Clinical Engineering se deve à contribuição de Joseph D. Bronzino e sua metodologia de trabalho. Segundo o autor, a Engenharia Clínica pode ser dividida em 05 níveis de atuação, sendo o nível 01 o mais básico e o nível 05 o mais estratégico, conforme imagem abaixo:
Mais do que uma equipe técnica, com foco na manutenção e reparo dos equipamentos, é fundamental realizar a gestão de todas as tecnologias da instituição, por isso uma boa engenharia clínica deve ter processos padronizados que garantam atendimento aos requisitos exigidos em todos os 05 níveis desta escala.
Aqui na Equipacare, nós utilizamos a metodologia FixSystem em nossas engenharias clínicas, pois ela contempla os processos padronizados para todos estes níveis acima. Caso queira saber mais sobre esta metodologia, confira em: www.fixsystem.io
A atuação da Clinical Engineering deve sempre buscar o nível mais alto da escala, portanto, listamos algumas atividades principais relacionadas ao nível estratégico de atendimento e ao nível operacional:
- Nível estratégico: atuação com foco maior em suporte estratégico à administração, planejamento tecnológico, apoio às compras e projetos, negociação com fornecedores, resolução de problemas difíceis, análise crítica / outputs de indicadores, padronização dos processos, auditorias e melhoria contínua;
- Nível operacional: atuação com foco maior em suporte operacional aos setores, gestão tecnológica, apoio às instalações e treinamentos, acompanhamento de fornecedores, resolução de problemas do dia a dia, operação / inputs de dados no sistema, corretivas, avaliações, instalações, inspeções, preventivas e calibrações.
É fundamental destacar a importância de conhecer estes diferentes níveis de atuação e compreender as expectativas dos clientes em relação à contratação dos serviços, uma vez que o dimensionamento da equipe de Engenharia Clínica deverá ser adaptado ao nível de gestão da instituição.
Quanto mais alto for o nível de gestão, maior será a necessidade de uma abordagem estratégica na implementação da Engenharia Clínica nesse ambiente.
DIMENSIONAMENTO DA EQUIPE DE ENGENHARIA CLÍNICA
A equipe de Engenharia Clínica alocada na instituição pode ser dimensionada de algumas maneiras, mas geralmente é composta pelos seguintes profissionais (cargo/função):
• Engenheiro Clínico
• Supervisor Técnico
• Técnicos
• Assistentes Técnicos
• Auxiliares Administrativos
A qualificação e a quantidade destes profissionais irão variar de acordo com alguns critérios, tais como: número de leitos, número de ordens de serviço por mês, quantidade de equipamentos presentes no parque tecnológico etc. São alguns exemplos de dados utilizados para esse dimensionamento.
Dentre as maneiras utilizadas para dimensionar a quantidade desses profissionais, ensinaremos aqui 03 formas diferentes:
1) Dimensionamento no padrão “Acadêmico”:
A maneira acadêmica de dimensionar é a que utiliza mais dados para seu cálculo e é necessário um volume de informações prévio.
Nesse caso, pode-se iniciar o cálculo com o produto entre o Tempo Médio entre Falhas dos equipamentos, o Tempo Médio de Manutenção Corretiva e a quantidade de equipamentos. Assim, obtém-se o volume anual de horas trabalhadas em manutenções corretivas.
Em seguida, utilizando a Periodicidade das Programadas, o Tempo Médio de Execução das Programadas e a quantidade de equipamentos, obtém-se o volume anual de horas trabalhadas em programadas.
A soma desses dois volumes resulta no Total de Horas anual necessário para aquela instituição. Entretanto, alguns fatores devem ser levados em consideração para refinamento desse resultado:
• Considerar de 60 a 70% da produtividade dos profissionais alocados;
• Considerar a quantidade de dias úteis e o horário comercial de trabalho;
Por fim, com todos os dados obtidos, pode-se chegar no número ideal de profissionais para essa instituição.
2) Parque Tecnológico:
Uma maneira mais rápida e prática de dimensionar a equipe é utilizando como base a relação de equipamentos da instituição. Nesse caso não é necessária nenhuma informação prévia sobre corretivas/programadas, o que facilita muito o dimensionamento para instituições que não tem esse histórico.
Para esse cálculo, basta utilizar como parâmetro a média de 400 a 500 equipamentos por técnico alocado, desconsiderando o Supervisor e o Engenheiro Clínico. Vale ressaltar que a necessidade de plantonista ou técnico dedicado à algum setor específico pode impactar no resultado.
Essa é a metodologia prática que utilizamos aqui na Equipacare Engenharia mas é muito importante realizar um ajuste fino na análise do inventário para buscar a qualificação correta dos técnicos a depender da complexidade dos equipamentos presentes na instituição.
3) Ordem de Serviço ou Número de Leitos:
Equipes de engenharia clínica também podem ser dimensionadas pela quantidade de ordens de serviço ou pelo número de leitos da instituição.
No primeiro caso, utiliza-se a relação de 150 Ordens de Serviço por técnico por mês, desconsiderando o Supervisor / Engenheiro Clínico. Essa é uma maneira de visualizar o volume de trabalho e dimensionar a equipe com este dado. Como desvantagem, esta metodologia requer que já exista um histórico anterior de gestão de manutenção, o que muitas vezes não está disponível.
Já o dimensionamento pelo número de leitos utiliza a relação de 100 leitos por técnico alocado, também desconsiderando na conta o Supervisor/Engenheiro Clínico. Contudo, consideramos essa maneira a menos precisa e menos utilizada, uma vez que nem todo leito é composto pela mesma configuração, e varia
muito conforme setor ou criticidade de atendimento, o que dificulta o dimensionamento ideal.
CAPACIDADE E RESPONSABILIDADE DA ENGENHARIA CLÍNICA
Como já informado acima, aqui na Equipacare nós utilizamos a metodologia de dimensionamento que leva em consideração a quantidade de equipamentos no parque tecnológico da instituição.
Mas, todas as proporções de dimensionamento utilizadas nas diferentes metodologias estão relacionadas às expectativas e premissas de CAPACIDADE e RESPONSABILIDADE da equipe. Em outras palavras, varia de acordo conforme o ESCOPO DE ANTEDIMENTO assumido por esta engenharia clínica.
Capacidade da equipe
A resolutividade da equipe segue, por lógica, o Princípio de Pareto, em que 80% dos problemas presentes em uma instituição podem ser resolvidos com apenas 20% dos esforços empregados. Dentre estes problemas simples e comuns incluem mau contato, cabos com defeito, sensores desajustados e outros problemas simples de solucionar.
No entanto, mesmo sendo problemas simples, essas questões são de extrema importância para o pleno funcionamento de uma UTI ou de um Centro Cirúrgico. A falta de atenção a esses itens simples resulta na perda de receita da instituição, por conta de leitos inativos ou cirurgias sendo canceladas.
Justamente por serem problemas relativamente simples, não faz sentido financeiro não ter uma equipe de Engenharia Clínica dimensionada para atender esta camada de demanda, essencial para o bom desempenho e funcionamento dessas unidades de saúde.Parte superior do formulário
A metodologia de dimensionamento de equipes adotada na Equipacare estabelece um nível mínimo de resolutividade esperado para as nossas equipes, em que se busca resolver, pelo menos, 80% de todos os problemas com a equipe interna sem a necessidade de acionar fornecedores externos. Contudo, equipes mais experientes, que já superaram a curva de aprendizado, constantemente alcançam um índice ainda mais alto, ultrapassando 90% de resolutividade. Portanto, 80% de resolutividade é o mínimo a ser esperado.
Responsabilidade da equipe
A responsabilidade da equipe pode ser definida como o escopo de atendimento da Engenharia Clínica, ou seja, quais equipamentos do parque estão cobertos pela gestão do serviço e quais estão fora do escopo.
O escopo de atendimento é uma definição importante, uma vez que delimita a responsabilidade da equipe. A partir dessa definição, é possível aperfeiçoar o dimensionamento da equipe e programar as manutenções nos equipamentos.
Vale salientar que as manutenções programadas são necessárias para reduzir o número de falhas nos equipamentos, mas é essencial encontrar um equilíbrio entre o custo decorrente das falhas e o custo decorrente das manutenções preventivas.
É necessário identificar o ponto ótimo em que se obtém a máxima eficiência, evitando tanto as falhas frequentes que geram custos e interrupções indesejadas quanto a realização excessiva de manutenções preventivas, que podem implicar em gastos desnecessários.
Encontrar esse equilíbrio permite otimizar os recursos disponíveis, garantindo um funcionamento confiável dos equipamentos com custos adequados.
Conclusão
Independente da metodologia de dimensionamento adotada, o resultado deverá ser refinado de acordo com a realidade da instituição e de acordo com a complexidade da operação.
E, como explicamos, não existe uma única maneira correta de dimensionamento, justamente pelo fato de que equipes de engenharia clínica diferentes, assumem diferentes escopos de atendimento (conceitos de Responsabilidade e Capacidade já citados neste artigo).
Por fim, conhecer estas diferentes metodologias de dimensionamento permite comparar resultados e tomar a melhor decisão e, neste sentido, esperamos sinceramente que este artigo tenha sido útil para você!