Hospitais são unidades complexas de saúde, normalmente compostos por diversos setores. Entre eles, há um de grande importância, seja ela estratégica, financeira ou até mesmo por complexidade de fluxo: o Centro Cirúrgico. Tamanha a criticidade faz com que os projetos de instalação deste setor exijam grande atenção e, em especial sobre o projeto elétrico, há diversas interseções com a Engenharia Clínica para atender aos requisitos da equipagem médica.
A norma NBR 13534 – com sua segunda edição lançada em 2008 – apresenta diversos requisitos para as instalações elétricas do setor. E para auxiliar de forma didática, apresentamos neste material alguns aspectos teóricos e outras dicas vindas da experiência prática, que consideramos importantes para um bom projeto elétrico de centro cirúrgico.
Sobre o que vamos falar:
Classificação dos Ambientes
Entre as exigências apresentadas, se destaca a classificação dos ambientes do setor em Grupos conforme grau de exigência e proteção requisitado, bem como a classificação em Classes conforme o tempo de comutação em que uma queda de energia deve ser restabelecida.
Grupo 0 | Local médico não destinado à utilização de parte aplicada de equipamento eletromédico em pacientes |
Grupo 1 | Local médico destinado à utilização de partes aplicadas de equipamento eletromédico em partes externas ou internas sem riscos para o paciente |
Grupo 2 | Local médico destinado à utilização de partes aplicadas de equipamento eletromédico em procedimentos intracardíacos, cirúrgicos, de sustentação de vida de pacientes e outras aplicações em que a descontinuidade da alimentação elétrica pode resultar em morte |
Classe 0,5 | Alimentação disponível automaticamente em até 0,5 segundo |
Classe 15 | Alimentação disponível automaticamente em até 15 segundos |
Classe > 15 | Alimentação disponível automaticamente em em mais de 15 segundos |
Especificamente sobre o setor centro cirúrgico, esta norma classifica os ambientes conforme o quadro abaixo:
Classificação de ambientes NBR 13534, centro cirúrgico
Vale a atenção sobre a classificação de grupo do ambiente RPA: Salas de Recuperação Pós Anestésica (RPA), em geral, pertencem ao grupo 01, tendo como sistema de alimentação de emergência o gerador e sem a necessidade de sistema IT. Porém, caso o hospital determine o uso de equipamentos de sustentação de vida neste RPA (como ventilador pulmonar), deverá ser considerado como grupo 02 (com sistema IT).
A NBR 13534 classifica as salas cirúrgicas como sendo de classe 15 (no gerador) e apenas os focos cirúrgicos e fontes de luz para endoscopia utilizados neste local que, por esta norma, devem ter sua alimentação restabelecida em até 0,5 segundo (com no-break), evitando desligamento do equipamento.
Entretanto, por experiência, boas práticas e conservadorismo, indicamos a adoção de cobertura de no-break não apenas para a iluminação cirúrgica, mas também para os seguintes itens:
- Computadores e servidores (TI);
- Iluminação na sala cirúrgica, sala de endoscopia, sala de emergência e sala de procedimento, principalmente dos focos;
- Todas as tomadas do Sistema IT (ambientes grupo 02) e;
- Tomadas dos postos de enfermagem, em especial, as tomadas das centrais de monitorização e tomadas das centrais de chamada de enfermagem.
Sistema IT
O ponto de maior atenção sobre essa norma é com relação aos ambientes classificados como do Grupo 2, que exige o uso de Sistema IT Médico, que é composto basicamente por:
- Transformador de Separação – Elemento que transforma o sistema da rede de alimentação convencional (solidamente aterrada) em Sistema IT (aterrado por elevada impedância), além de isolar a energia a ser disponibilizada;
- Dispositivo Supervisor de Isolamento (DSI) – Dispositivo que supervisiona continuamente a condição de segurança das instalações permanentemente (isolação elétrica, corrente e temperatura do transformador) e;
- Anunciador – Dispositivo de alarme sonoro e visual acionado se a resistência de isolamento supervisionada pelo DSI apresente valor menor ao programado ou caso atinja 50 kΩ.
Ainda são mantidos disjuntores nos circuitos e podem ser inclusos outros itens, como localizadores de falhas, painéis e sistema de monitoramento remoto que garantem maior eficiência ao sistema.
No Sistema IT, por não haver condutores de alimentação com tensão elétrica referenciada à terra, um contato acidental com o terra (falha terra) não provoca desligamento do circuito, mantendo continuidade operacional. Somente se mantido este contato e gerando uma segunda falha, colocando em contato com outro ponto aterrado, que ocorre o desligamento da alimentação com desarmamento do disjuntor de proteção.
Tomada fora do sistema IT
Estando as tomadas para uso em equipamentos médicos alimentadas por Sistema IT, a norma exige que se houverem no mesmo ambiente outras tomadas de menor nível de proteção, ou seja, com outro tipo de alimentação (esquema TN-S ou TT), devem ser clara e permanentemente marcadas/identificadas quais são as tomadas servidas pelo esquema IT médico.
Tomadas não alimentada pelo sistema IT normalmente são as destinadas para equipamentos não-críticos, com os computadores da estação de enfermagem das salas cirúrgicas; mesas cirúrgicas, equipamentos de raios X portáteis e outros equipamentos com potência superior a 5 kVA, tais como Arcos Cirúrgicos.
E a marcação destas tomadas pode ser feita com uso de cor exclusiva do miolo da tomada alimentada por sistema IT, além de plaqueta de advertência clara e permanente.
Leia mais em: Dicas para Implantação de Salas Cirúrgicas Inteligentes
Já para as tomadas destinadas aos equipamentos de raios x portáteis, é requerida a não-intercambialidade com quaisquer outras tomadas, ou seja, um padrão diferente de plugue.
Esta medida garante que o arco cirúrgico não seja conectado acidentalmente em tomada IT, o que poderia provocar falha e desligamento do sistema. E para evitar uma situação que seria ainda mais grave, que é a alimentação de um equipamento de suporte a vida em tomada não alimentada pelo sistema IT.
Além do amparo na norma, essa indicação de adotar padrão diferente de tomada no Centro Cirúrgico, também é defendida pelos fornecedores de sistema IT e por boa parte dos engenheiros que trabalham com esses equipamentos.
Nossa sugestão de padrão para esta tomada é o Steck 32A com saída angulada instalada a 1,50 m do piso acabado, com previsão em todas as cirúrgicas e na sala /ambiente de guarda dos equipamentos.
Notas:
- A adoção desse plugue é exigida para qualquer equipamento presente no setor, com potência superior a 5 kVA e;
- Lembrar de prever tomada Steck na sala de equipamentos, para testes.
Piso Condutivo
Além da exigência para o nível de proteção das tomadas, também é necessário prever piso condutivo para as salas cirúrgicas. Este tipo de piso é previsto pela RDC 50/2002 da Anvisa, por considerar que nestes ambientes são usadas misturas anestésicas inflamáveis e ainda gases comburentes como oxigênio ou óxido nitroso. Este tipo de piso possuí poucos fornecedores e apresenta algumas necessidades específicas para instalação, como fixação de fitas de cobre abaixo das mantas distribuídas em distâncias pré-determinadas (conforme fabricantes). E para a obra /projeto é importante prever caixa de passagem instalada próxima ao piso de cada sala cirúrgica, a qual será utilizada para interligação das fitas ao sistema de aterramento, além é claro, da própria manta condutiva.
Se você gostou das dicas e quer receber todo o suporte especializado para o seu projeto de centro cirúrgico, entre em contato com o nosso setor comercial.
Texto em colaboração com Sâmela Santos