A pandemia ocasionada pelo COVID-19, colocou em primeiro plano muitos assuntos relacionados a saúde. Nesse ano, o dia Nacional da Saúde, celebrado em 05 de agosto, teve uma ótica diferente, pois trouxe à tona debates sensíveis como o Paradoxo Tecnológico da Saúde na gestão hospitalar. Decidimos, portanto, revisitar este post de nosso blog, publicado em 2015, mas que tem um tema muito atual.
Em que resultará, por exemplo, a corrida por ventiladores mecânicos já que, certamente, não terão tanta demanda em alguns meses?
Toda tecnologia possui seu ciclo de vida útil. Elas são desenvolvidas, incorporadas pelo mercado, depois caem em desuso à medida que outras mais modernas as substituem. Por exemplo, nas nossas casas, os antigos videocassetes deram lugar aos aparelhos de DVD, que, por sua vez, deram lugar aos aparelhos de BLU-RAY e agora estamos na era do Streaming.
7 Principais exigências em acreditação para o setor de Engenharia Clínica
Já os equipamentos médicos apresentam o que chamamos de “elasticidade do ciclo de vida”, pois as novas tecnologias têm complementado às anteriores ao invés de substituí-las. Por exemplo, o tomógrafo não substituiu o uso do Aparelho de Raios-x e, tão pouco, a Ressonância Magnética veio a substituir o Tomógrafo. Novas tecnologias já estão em desenvolvimento e em testes e certamente custarão mais do que as Ressonâncias Magnéticas e, pela tendência, não substituirão estas.
Somado a isto, temos também a pressão das empresas fornecedoras que, no mercado competitivo e de consumo, se utilizam de muitas estratégias para estimular os médicos a prescreverem aos hospitais a adesão e utilização das novas tecnologias comercializadas.
Ao aderi-las, os hospitais têm seu nível de investimento elevado e se veem cada vez mais pressionados para gerir os custos de manutenção e consumo de todos estes novos equipamentos.
Para os especialistas, há necessidade urgente de repensar o modelo dos sistemas de saúde em todo o mundo. A administração dos recursos disponíveis para a saúde terá de ser mais eficiente e a incorporação tecnológica deverá ser menos impulsiva e mais criteriosa, levando em consideração todos os fatores que impactam nos custos operacionais. Acontece que o grande desafio do setor de saúde está justamente em realizar esta análise de viabilidade e é daí que vem o Paradoxo Tecnológico da Saúde.
Sobre o que vamos falar:
O que é Paradoxo Tecnológico da Saúde?
O Paradoxo Tecnológico da Saúde é a contradição implícita de que há, na análise da viabilidade financeira de uma incorporação tecnológica, frente aos benefícios percebidos por seus usuários, pois em se tratando de Saúde, o que se deseja é que todas as necessidades sejam atendidas sem a lógica do lucro.
Em outras palavras, o paradoxo tecnológico da saúde está em lidar com a dicotomia “quanto vale uma vida” versus “quanto custa uma vida”. Como saúde não tem preço, recursos ilimitados deveriam ser disponibilizados para salvar vidas ou para melhorar a qualidade de vida de um paciente e, por isto mesmo, os hospitais estão cada vez mais afundados em custos e mais custos.
Em razão da pandemia, o tema fica ainda mais em voga frente a tantos questionamentos sobre a finalidade do grande volume de ventiladores pulmonares adquiridos e que provavelmente ficarão ociosos quando for distribuída uma vacina e tivermos a esperada redução dos casos.
A urgência da crise não permitiu realizar de forma criteriosa a incorporação destas tecnologias. A busca internacional por aparelhos abriu brechas e concessões para entrada de equipamentos importados que foram colocados em uso sem registro da ANVISA ou certeza de assistência técnica. Portanto, as chances de desperdício e sucateamento desses equipamentos por falta de peças são consideráveis.
A Engenharia Clínica e o Paradoxo Tecnológico da Saúde
A Engenharia Clínica, por sua vez, tem como papel otimizar os custos e elevar a produtividade das instituições de assistência à saúde.
De fato, a preocupação com a Gestão de Equipamentos em Saúde é assunto tão importante que, desde janeiro de 2010, temos como normativa no nosso país a RDC 02/2010 da Anvisa, que dispõe sobre as práticas obrigatórias em todos os estabelecimentos de assistência à saúde do Brasil. Além disto, todos os programas de Acreditação em Saúde contemplam padrões de qualidade e segurança para a gestão do parque de equipamentos médicos.
Por que contratar uma empresa de Engenharia Clínica?
Do ponto de vista da Engenharia, a migração do modelo de atuação – antes restrito somente à manutenção – para um papel mais estratégico e de gestão é uma tendência irreversível. Nos hospitais há tanta tecnologia embarcada quanto na indústria, onde estas práticas de engenharia já estão bem mais consolidadas, mas talvez tenham impacto ainda mais visível no setor de saúde, onde a ineficiência e o desperdício são maiores do que em outros setores da economia.
Cabe, portanto, à Engenharia Clínica estabelecer, implementar e documentar critérios para a qualificação de fornecedores bem como avaliar e comparar os custos de cada incorporação tecnológica para que no âmbito da Medicina o processo decisório seja tomado com mais dados.
A imagem abaixo de um iceberg representa perfeita metáfora sobre o processo de incorporação tecnológica:
Acima da “linha d’água” (o que é visível) está o custo de aquisição. Dentre o que está submerso (invisível) está o custo do frete, instalação, treinamentos, manutenção, consumo elétrico, insumos, peças, custo de atualização etc. Enquanto a abordagem básica enxerga apenas o que está “acima da linha d’água”, a análise técnica profissional visa identificar tudo o que está oculto.
A natureza dos negócios em saúde nos traz de forma inerente, complexidades e dicotomias como a de “quanto custa” versus “quanto vale” uma vida, ou seja, equações que envolvem “saúde” e “dinheiro” e desafios como “ser um agente social” e ao mesmo tempo “ser uma empresa sustentável”.
Não há dúvidas de que, para vencer este desafio, Medicina e Engenharia precisarão andar cada vez mais “de mãos dadas”.